quarta-feira, 9 de maio de 2012

Como é difícil tirar as rodinhas


"Quem já aprendeu a andar de bicicleta sabe que somente uma decisão pessoal pode retirar as rodinhas. Este é o desafio das gerações atuais".

Ganhar a bicicleta era o principal sonho daquela criança. Foram muitos os momentos de expectativa em frente à vitrine da loja.  A felicidade sonhada, já estava nos planos dos pais há algum tempo, contudo, contrariando toda ansiedade do coração, a razão insistia em criar um momento especial para realizar o desejo do filho.

Aqueles pais viveram no tempo das “bolinhas de gude”, das pipas, dos jogos de “queimada” e de “pular corda”. Já estava distante o tempo em que a televisão era um instrumento que provocava disputas barulhentas entre as crianças e, algumas vezes, silenciosas entre os pais.

Eram dias em que desenhos, seriados, noticiários e novelas, colocavam pais e filhos em lados opostos. Naqueles anos, poucas crianças podiam usufruir de um quarto individual, quanto mais de um brinquedo. Compartilhar era uma condição imposta pela realidade de famílias ainda numerosas. Não causa nenhum espanto que hoje, os pais queiram ter apenas um ou dois filhos e que se esforcem tanto, para adquirir imóveis que permitam acomodar seus filhos em quartos individuais.

Foram tempos de muitas limitações, por isso aqueles pais sabiam o valor de um brinquedo tão individual quanto a bicicleta, e tinham a intenção de valorizar cada momento de alegria.

Quando o presente chegou, ficou evidente a dimensão do planejamento dos pais.A bicicleta era moderna e tinha todos os acessórios possíveis. Capacete, bomba de ar, buzina, luzes de sinalização, amortecedores hidráulicos e principalmente, as indispensáveis rodinhas de segurança. Tudo para garantir que os momentos alegres não pudessem ser estragados por quedas e machucados.

A primeira volta que a criança deu na nova bicicleta, criou um daqueles momentos mágicos, com sorrisos em todos os rostos.

Sob o olhar atento dos pais, a criança pedalava e ganhava velocidade. Depois de alguns dias, foi adquirindo uma relação íntima com a nova companheira e se libertando dos acessórios mais pesados e se aventurando por caminhos mais sinuosos. O único acessório que mantinha em sua bicicleta eram as rodinhas de segurança.  Os pais tentaram tirar as rodinhas, mas não tiveram sucesso, pois a criança já estava tão acostumada.

Com o tempo, a criança cresceu, e seus pais, sempre preocupados em proporcionar grandes alegrias a ela, foram substituindo as rodinhas, por modelos maiores e mais resistentes, afinal, as novas aventuras eram muito mais desafiadoras e exigiam cada vez mais proteção.

Há alguma coisa neste comportamento que transforma esta realidade em algo estranho, mas aparentemente aceitável e natural. Não podemos condenar a criança, afinal, todos nós gostamos de rodinhas nos protegendo, facilitando nossos caminhos e nossos desafios.
Também é compreensível a atitude dos pais, que sempre irão se preocupar em proteger as alegrias dos filhos. Eles nunca terão forças para tirar as rodinhas.
Quem já aprendeu a andar de bicicleta sabe que somente uma decisão pessoal pode retirar as rodinhas. Este é o desafio das gerações atuais.

Alguns precisam assumir uma postura menos acomodada e mais proativa em relação às suas próprias escolhas, afinal as rodinhas limitam nossos movimentos, nossas possibilidades de alegrias.

Outros precisam aprender a confiar no talento pessoal e na força que os erros acrescentam ao crescimento pessoal, porque mesmo não andando de bicicleta, tombos e machucados acontecerão.

A única ajuda que podemos desejar é ter o apoio de alguém segurando no banco por alguns instantes antes da grande aventura.

Sidnei Oliveira
Consultor e Palestrante, expert em conflitos de gerações, geração Y e Z. 
Autor do livro Geração Y – Ser potencial ou ser talento? Faça por merecer. 

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