Na
praia, descontraídos, dois meninos, de aproximadamente 7 anos, jogam frescobol.
Entre risadas e frases dispersas, um diz ao outro, caçoando: 'Hahá, essa você
não pegou!..' enquanto o amigo corria para pegar a bolinha lançada bem longe. A
cena se repetiu alternando a vez de quem não pegava a bola, até que um falou:
'Esse jogo está chato!'. Chamou nossa atenção o fato de que comemoravam o erro
do companheiro, o regozijo era sobre a
falha do outro, e não pelo acerto da jogada. Claro que muito pouco jogo aconteceu...
O
frescobol é uma brincadeira que consiste em rebater a bolinha lançada pelo
parceiro, sem deixá-la cair no chão. Não há quadra delimitada, nem pontuação
individual por acertos. O objetivo comum é manter a bola no ar. Para isso, cada
jogador deve remetê-la ao outro, para que 'acerte' e devolva. A grande maioria
dos jogos se baseia no oposto: fazer o adversário errar. Essa brincadeira
propõe, portanto, uma mudança de parâmetro que os nossos menininhos não
chegaram a perceber...
Os
jogos oferecem situações onde se exerce a competição e a vontade de ser melhor
que o outro. Entretanto, esse exercício deve ir até o limite das regras
estabelecidas. Ultrapassá-las é invalidar a disputa esportiva. Nesse sentido, jogar é uma atividade que tem
função social e educativa importantes.
Permite dar vazão às tendências humanas como a agressividade, o orgulho, a
vingança, sem que haja violência e destruição. Não é o que temos visto,
tristemente, acontecer nos estádios...
Os
nossos protagonistas apenas buscaram satisfazer os desejos de competir e
vencer, mas com isso impossibilitaram a realização da brincadeira, pois a
bolinha foi quase sempre parar no chão. Não cometeram nenhuma violência física,
mas o jogo ficou 'chato'. Ficaria interessante se tivessem entendido que o
mérito nessa diversão era outro: desenvolver cada vez mais a habilidade de
pegar a bola e possibilitar, por meio da sua jogada, o mesmo para o parceiro.
A
cena nos faz pensar no papel importante que teria um adulto que ajudasse as
crianças a perceberem o prazer de se desafiar e se aprimorar, sem precisar
fazer alguém perder.
O
desenvolvimento da capacidade de colaborar sustenta a 'bola no ar' nos 'jogos da vida': no
trabalho, no amor, nas amizades.
Helena Mange Grinover - Psicologia Clínica; professora
na UNIP e do Departamento de Psicanálise Instituto Sedes Sapientiae; Membro do
Conselho do Instituto Zero a Seis. http://www.institutozeroaseis.com.br/
Marcia Arantes – Psicóloga; professora de
Orientação Profissional - Faculdades Paulistanas; Trabalho de Promoção do
Desenvolvimento Pessoal para Professores e Alunos do Instituto Europeo Di
Design; Membro do Conselho do Instituto Zero a Seis. http://www.institutozeroaseis.com.br
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