Prof.
Zé Augusto*
Sim, os organizadores dos Jogos
Olímpicos de Londres fizeram um serviço quase perfeito, mas faltaram alguns
elementos fundamentais para transformar esta Olimpíada em inesquecível.
Apresento aqui então um balanço olímpico sobre minhas experiências na terra da
rainha. Espero que meus alunos reflitam sobre esse aprendizado!
A primeira consideração é sobre o
impecável sistema de transporte londrino. O metrô, com linhas para qualquer
lugar e sempre sem superlotação, mesmo nas estações vizinhas das competições,
realmente é impressionante. E o tempo entre os trens não passava de, no máximo,
5 minutos. Os ônibus também são muito eficientes e inteligentes: como no metrô,
uma voz eletrônica anuncia o nome do lugar de destino antes de cada parada. O
único senão, terrível para as pessoas mais velhas ou com necessidades
especiais, era a inexistência de escadas rolantes ou elevadores em muitas das
estações. Minha mãe, por exemplo, uma senhora de quase 80 anos, sofreu um
verdadeiro calvário físico ao precisar e subir escadas intermináveis em algumas
estações.
Ainda em transporte e qualidade de
vida, destaca-se que o rio Tâmisa está cada vez menos poluído e oferece
navegação. Ou seja, dá para pegar barcos e viajar por ele, em viagens muito
gostosas. Dá pra imaginar isso na mente de um paulistano que convive com os
mortos e mal cheirosos Tietê e Pinheiros? E há ainda toda uma vida cultural a
gastronômica nas margens e redondezas do rio londrino. Shows nos calçadões,
restaurantes, lojas, parques de diversões, pistas de skate, parquinhos para
crianças, bancos e mais bancos para descansar e olhar o rio em paz, a estrutura
e conforto ao lado do Tâmisa impressiona!
Agora as competições e aqui a
falha talvez fundamental dos Jogos de Londres: a falta de envolvimento e calor
humano dos ingleses. Qual a importância disso? Não basta uma grande
organização, o envolvimento do povo local colabora demais para o sucesso de uma
Olimpíada. Por isso que muitos dos brasileiros e alguns outros povos visitantes
que lá estiveram reclamaram bastante da postura dos ingleses, que simplesmente
não se interessavam em interagir com os povos do mundo todo presentes. Nem de
responder pausadamente perguntas que fazíamos eles eram capazes. Essa falta de
hospitalidade fez a emoção da cidade sede beirar a frieza. Nem bandeiras,
raríssimas, eram vistas nas habitações locais. E até nos hotéis e pousadas as
referências aos Jogos limitavam-se a uma televisão no saguão sintonizada na BBC
inglesa transmitindo apenas as competições envolvendo os atletas da Grã
Bretanha. Essa postura só mudava nas áreas de competição, com os voluntários
(pessoas que trabalham de graça nos Jogos) muito bem treinados e na maioria
simpáticos.
Pelo menos a turma da Rainha
aprendeu com os brasileiros o que é demonstrar e oferecer alegria, torcida
apaixonada e carinho em cada local em que havia o Brasil competindo. E além de
torcer muito, cantando e empunhando nossa bandeira, os brasileiros ainda saíam
depois cantando juntas músicas de uma brasilidade amada. Faziam isso desde os
ginásios ou estádios, após os finais das disputas, até as estações de metrô. E
até nosso hino nacional era muitas vezes entoado com um fervor emocionante.
Quanto aos nossos heróis
olímpicos, destaco a incrível superação das meninas do vôlei e seu
treinador-mestre tão competente e humano, Zé Roberto; a garra da judoca do
Piauí, Sara Menezes (que nunca deixou seu estado, o mais pobre do país, e mesmo
assim se tornou a melhor judoca do planeta) e os outros medalhistas do tatame;
a quase medalha e a postura sempre crítica contra a falta de apoio em seu
esporte no país, de Diogo Silva, do tae kwon do; e o ouro histórico da
ginástica de Arthur Zanetti, talento que foi descoberto por um profissional
vital nesse país, o professor de educação física dos seus tempos de escola.
Claro que outras medalhas também são valiosas, pela dificuldade de ser um
atleta de outra modalidade que não o futebol nesse país.
Bom, vou parando por aqui,
queridos alunos e alunas, porque tenho uma pilha enorme de trabalhos sobre a
Olimpíada para ver e corrigir! “É, Zé, você pediu, agora vai ficar dias
checando tudo!” hehe. Mas farei isso com orgulho dessa molecada que deu o
sangue nesses trabalhos tão caprichados! Vocês foram guerreiros!
*
José Augusto (O Zé) é Jornalista e professor de redação no Colégio Horizontes. Esteve
em Londres durante as Olimpíadas e escreveu este texto especialmente para o
Blog da Revista do Grupo A.
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