sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Lições brasileiras em Londres 2012


Prof. Zé Augusto*

Sim, os organizadores dos Jogos Olímpicos de Londres fizeram um serviço quase perfeito, mas faltaram alguns elementos fundamentais para transformar esta Olimpíada em inesquecível. Apresento aqui então um balanço olímpico sobre minhas experiências na terra da rainha. Espero que meus alunos reflitam sobre esse aprendizado!

A primeira consideração é sobre o impecável sistema de transporte londrino. O metrô, com linhas para qualquer lugar e sempre sem superlotação, mesmo nas estações vizinhas das competições, realmente é impressionante. E o tempo entre os trens não passava de, no máximo, 5 minutos. Os ônibus também são muito eficientes e inteligentes: como no metrô, uma voz eletrônica anuncia o nome do lugar de destino antes de cada parada. O único senão, terrível para as pessoas mais velhas ou com necessidades especiais, era a inexistência de escadas rolantes ou elevadores em muitas das estações. Minha mãe, por exemplo, uma senhora de quase 80 anos, sofreu um verdadeiro calvário físico ao precisar e subir escadas intermináveis em algumas estações.

Ainda em transporte e qualidade de vida, destaca-se que o rio Tâmisa está cada vez menos poluído e oferece navegação. Ou seja, dá para pegar barcos e viajar por ele, em viagens muito gostosas. Dá pra imaginar isso na mente de um paulistano que convive com os mortos e mal cheirosos Tietê e Pinheiros? E há ainda toda uma vida cultural a gastronômica nas margens e redondezas do rio londrino. Shows nos calçadões, restaurantes, lojas, parques de diversões, pistas de skate, parquinhos para crianças, bancos e mais bancos para descansar e olhar o rio em paz, a estrutura e conforto ao lado do Tâmisa impressiona!

Agora as competições e aqui a falha talvez fundamental dos Jogos de Londres: a falta de envolvimento e calor humano dos ingleses. Qual a importância disso? Não basta uma grande organização, o envolvimento do povo local colabora demais para o sucesso de uma Olimpíada. Por isso que muitos dos brasileiros e alguns outros povos visitantes que lá estiveram reclamaram bastante da postura dos ingleses, que simplesmente não se interessavam em interagir com os povos do mundo todo presentes. Nem de responder pausadamente perguntas que fazíamos eles eram capazes. Essa falta de hospitalidade fez a emoção da cidade sede beirar a frieza. Nem bandeiras, raríssimas, eram vistas nas habitações locais. E até nos hotéis e pousadas as referências aos Jogos limitavam-se a uma televisão no saguão sintonizada na BBC inglesa transmitindo apenas as competições envolvendo os atletas da Grã Bretanha. Essa postura só mudava nas áreas de competição, com os voluntários (pessoas que trabalham de graça nos Jogos) muito bem treinados e na maioria simpáticos.

Pelo menos a turma da Rainha aprendeu com os brasileiros o que é demonstrar e oferecer alegria, torcida apaixonada e carinho em cada local em que havia o Brasil competindo. E além de torcer muito, cantando e empunhando nossa bandeira, os brasileiros ainda saíam depois cantando juntas músicas de uma brasilidade amada. Faziam isso desde os ginásios ou estádios, após os finais das disputas, até as estações de metrô. E até nosso hino nacional era muitas vezes entoado com um fervor emocionante.

Quanto aos nossos heróis olímpicos, destaco a incrível superação das meninas do vôlei e seu treinador-mestre tão competente e humano, Zé Roberto; a garra da judoca do Piauí, Sara Menezes (que nunca deixou seu estado, o mais pobre do país, e mesmo assim se tornou a melhor judoca do planeta) e os outros medalhistas do tatame; a quase medalha e a postura sempre crítica contra a falta de apoio em seu esporte no país, de Diogo Silva, do tae kwon do; e o ouro histórico da ginástica de Arthur Zanetti, talento que foi descoberto por um profissional vital nesse país, o professor de educação física dos seus tempos de escola. Claro que outras medalhas também são valiosas, pela dificuldade de ser um atleta de outra modalidade que não o futebol nesse país.

Bom, vou parando por aqui, queridos alunos e alunas, porque tenho uma pilha enorme de trabalhos sobre a Olimpíada para ver e corrigir! “É, Zé, você pediu, agora vai ficar dias checando tudo!” hehe. Mas farei isso com orgulho dessa molecada que deu o sangue nesses trabalhos tão caprichados! Vocês foram guerreiros!

* José Augusto (O Zé) é Jornalista e professor de redação no Colégio Horizontes. Esteve em Londres durante as Olimpíadas e escreveu este texto especialmente para o Blog da Revista do Grupo A.

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