A
mãe de Aninha está preocupada: já é a segunda ou terceira vez que encontra
objetos na mochila da menina que não lhe pertencem. Pergunta de quem são e a
garota lhe dá respostas difusas e contraditórias: 'Não sei'. ' É da fulana, ela
me deu'. 'É meu!'... A mãe, duvidando da filha e sem saber o que fazer, começa
a discursar sobre a impropriedade de pegar o que não lhe pertence, como é feio
fazer isso, não devemos desejar o que é dos outros...
Aos
seis ou sete anos, aproximadamente a idade de Aninha, a criança já tem noção
clara do que lhe pertence ou não, portanto sua mãe tem motivo para se
inquietar.
Os
pais podem ficar espantados ao verem seus filhos agirem de maneira totalmente
contrária aos princípios que prezam e procuram transmitir a eles. Isso fere a
imagem 'imaculada' que gostam de manter a respeito dos rebentos e pode tomar
proporções desmesuradas nos pensamentos sobre o que poderá vir a acontecer no
futuro: 'Meu filho vai ser um ladrão?'.
Ficam
desejando que os filhos não tivessem sentimentos e vontades que possam causar
dificuldades na vida social e tentam influenciá-los por ai: 'Não devemos querer
as coisas dos outros!'
Vontades,
sentimentos, desejos, não podem ser banidos do nosso mundo mental, fazem parte
do psiquismo normal do ser humano. O que precisamos é aprender a barrar as
ações movidas por eles. 'Desejo o estojo da minha colega, mas não posso
pegá-lo'.
Às
vezes, os discursos mais atrapalham do que ajudam... No exemplo, a fala da mãe
poderia se resumir a: 'Você está proibida de pegar o que não é seu. Vamos
devolver!'
Helena Mange Grinover - Psicologia
Clínica; professora na UNIP e do Departamento de Psicanálise Instituto Sedes
Sapientiae; Membro do Conselho do Instituto Zero a Seis.
http://www.institutozeroaseis.com.br/
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