Renato tem dez anos e frequentemente passa
alguns dias em casa de amigos ou parentes. Invariavelmente seus pais, ao
receberem o filho de volta, ouvem apreciações que em nada combinam com o que
eles veem na convivência com o menino. 'Ele é tão meigo, extrovertido, faz piadas...' comentam. Parece que estão lhes
falando de outra criança.
É
bastante comum esse desencontro entre o que se revela para os pais e o que
aparece em outros lugares, com pessoas diferentes. Muitas vezes essa
discrepância causa certo desconforto: ´porque lá em casa não é assim?'
Cada
individuo, ao se encontrar com um novo semelhante, vê nele aspectos com os
quais constrói uma imagem. A pessoa aprecia, desgosta, aprova, ama, detesta, em
função do ângulo em que olha. Ou seja, toda vez que a criança se relaciona com
pessoas diferentes, ela recebe o retorno de uma imagem de si mesma que
depende do recorte que esses novos olhos
privilegiam nela, do novo 'ponto de vista'.
O
fenômeno do filho que parece ser 'outro' se explica pela imagem diferente que
os 'outros' podem oferecer a ele e pelos efeitos que isso tem. Aquilo que é
visto como parte de sua nova imagem, tende a ser também apropriado pela criança
que deseja ampliar e mudar o conceito que tem de si, ou seja, ela quer ser
olhada de outra forma. Os pequenos são mais susceptíveis a essas novas
interações e assim incorporam outras faces a sua individualidade. Daí a riqueza
e as surpresas que esses afastamentos temporários da família propiciam ao longo
do desenvolvimento.
Aos
pais podemos dizer que essa é a única via pela qual seus filhos podem formar a
própria personalidade, ou seja, se espelhando primordialmente em quem cuidou
deles quando pequeninos, para depois poderem absorver outras influências.
Renato, ao se apresentar diferentemente quando está longe do olhar dos pais, ilustra a liberdade que tem de constituir
alternativas para sua maneira de ser, sem perder o que recebeu deles para se
estruturar.
Helena Mange
Grinover -
Psicologia Clínica; professora na UNIP e do Departamento de Psicanálise
Instituto Sedes Sapientiae; Membro do Conselho do Instituto Zero a Seis. http://www.institutozeroaseis.com.br/
Marcia Arantes – Psicóloga; professora de
Orientação Profissional - Faculdades Paulistanas; Trabalho de Promoção do
Desenvolvimento Pessoal para Professores e Alunos do Instituto Europeo Di
Design; Membro do Conselho do Instituto Zero a Seis.
http://www.institutozeroaseis.com.br
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