quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A estação de cada mulher


Texto extraído do site MSN

Um dia a flor enrubesce e nos tornamos mulheres. Meninas ainda na alma, o corpo já pronto para plantar sementes. A revolução começa. Dali pra frente, desabrocharemos a cada estação nossas múltiplas possibilidades
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Por Ana Kessler 11/jan 12:23
Em Fortaleza, o povo brinca que há quatro estações bem definidas durante o ano: Verão, Calor, Mormaço e Pegando Fogo. É uma maneira divertida de dizer que o tempo é um só, com pequenas variações, e aceitar rindo é o melhor a fazer. Mais ou menos como nós, mulheres. Somos muitas em uma e compreender cada “estação”, vivenciando sua plenitude sem tentar alterá-la ou negá-la é caminho saudável.

Um dia a flor enrubesce e nos tornamos mulheres. Meninas ainda na alma, o corpo já pronto para plantar sementes. A revolução começa. Dali pra frente, desabrocharemos a cada estação nossas múltiplas possibilidades. Mulheres aprendizes, exuberantes, sorridentes, mulheres executivas, compenetradas, decididas, mulheres melancólicas, introspectivas. Mulheres complicadas, instáveis, fúteis, práticas, dóceis, fartas, guerreiras, mulheres mães. Passamos por muitas fases, nos tornamos aquelas em que escolhemos ficar.

Encorpamos. Apesar de darmos muito valor à forma, com o tempo perceberemos o quão pouco ela importa. O físico está atrelado ao olhar do outro, nos sentimos valorizadas através da opinião alheia. A maturidade nos contempla com o olhar interno, já não precisamos mais de aprovação, nos sabemos plenas, lindas, inteiras. É uma estação sem idade, chega com as experiências vividas e com o que fazemos delas. Requer desapego ao que éramos e coração aberto ao novo. Nesta fase, o velho espelho torna-se mágico e mostra como nos enxergamos: únicas.

Maternidade. Talvez a estação mais ambígua, com certeza a mais visceral. Um dia dormimos mulheres, no outro acordamos mães. E seguimos assim, instáveis entre sermos uma e outra, até conseguirmos unir em nós mesmas essas tão novas metades, uma recém-dividida, outra recém-acrescentada. Quem somos assim que parimos? Para mim, a grande questão foi conseguir me acostumar com esse triângulo amoroso: o novo serzinho, a mulher que eu era e essa nova “eu” que nasceu junto com a Ana Bia. E, principalmente, aceitar que jamais seria quem fui novamente.

É um longo processo. Parir não nos dá o mérito de sermos mães. É apenas o início, dar à luz uma nova vida. Mãe é tudo o que vem depois. É a extensa jornada de entrega e dedicação. É o conjunto de decisões tomadas, fraquezas superadas, dores reprimidas, novidades assimiladas, egoísmos abandonados. E tudo com o foco no bem-estar dos filhos, envolto numa capacidade inesgotável de perdoar a eles e a si própria. Do bolo, ser mãe é a cereja: o sentimento mais pleno de amor. Mas qual sentimento de amor não é?

E num dia bate aquele desânimo, no outro você não sabe viver sem a sua louca rotina. E há quem case, quem crie os filhos sozinha, há as que aprendem a pedir ajuda, outras carregam o mundo nas costas. Há solidárias e solitárias. E as duas coisas ao mesmo tempo. Porque somos múltiplas, mais que excludentes. Num momento você chora, no outro também, então você ri a gargalhada mais solta feito borboleta no ar e segue em frente. Ser mulher é ser fênix, é ressurgir das cinzas. Sempre.

Enfim, a estação da sabedoria. O ponto de chegada. O momento em que você diz “então, era isso”. Dá vontade de gritar aos quatro ventos a sua grande descoberta, tudo o que vivenciou e como a vida pode ser vivida de maneira mais fácil e descomplicada. Você quer compartilhar a clareza de ideias, a sedimentação dos sentimentos, a verdadeira importância de cada coisa. Na ânsia, você sorri. Sabe que sabedoria não se ensina, se adquire. E lentamente se resigna a ajudar outras mulheres a, elas próprias, alcançarem suas respostas. A reformularem suas perguntas.

Ana Bia, menina-flor, ainda forma suas pétalas. Eu, mãe-regadora, jorro ensinamentos, orientação, atenção, amor. Busco adubá-la com bons nutrientes que transformem suas características natas em qualidades. E aditivos que otimizem seus talentos para usá-los da melhor maneira possível no futuro. Haverá o momento em que o seu botão irá se abrir e ela se revelará. Será a minha contribuição para enfeitar o jardim do mundo. Porque, ao me tornar mãe, estacionei na Primavera. E você, em que estação está? 

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