Quero tomar banho sozinha! Saia do
banheiro!’ Esse é o apelo da menininha de 6 anos , no momento de se despir.
Mais uma recomendação: ‘não deixa ninguém entrar!’. Novidade para os pais, pois
até esse momento, ela não parecia se importar com sua nudez.
Sabemos, a partir desse pedido, que sua
relação com o próprio corpo mudou. Ela quer preservá-lo dos olhares, criou uma
noção de intimidade, de que nem tudo é para ser compartilhado. Seu
desenvolvimento em direção à sexualidade adulta deu mais um passo. O prazer
sexual, tal como um adulto experimenta, ainda está longe do seu universo.
Entretanto, começam a se criar condições , a partir de contornos do que é
privado, reservado, para que ele se desabroche. Sem esses limites claros, não
há prazer.
Os pais, por sua vez, costumam ter dúvidas
quanto a exporem sua própria nudez aos filhos. Alguns acreditam que a questão
deveria ser tratada de maneira bem `natural´ e propositalmente ficam sem roupas
diante das crianças. Às vezes, passam por cima do próprio constrangimento, por
acreditar que isso fará bem aos pequenos.
Esse constrangimento, porém, é o indicio de que um limite foi
ultrapassado. O papel dos pais se fortalece quando sua intimidade não é
compartilhada com os filhos. Fazer de conta que a nudez é natural, na nossa
cultura, é artificial, e atrapalha o entendimento da criança de que seu lugar
na família não é o mesmo que o dos pais.
No nosso ambiente social, desfrutar da
interação com o corpo inteiramente nu de um adulto faz parte do relacionamento
sexual. A nossa garotinha, que já percebe isso a seu modo, preserva o futuro
dos seus desejos. E não venham lhe dizer
que isso é bobagem!
Marcia Arantes e Helena Grinover
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