Uma leitora enviou correspondência em que
comenta as reuniões de pais nas
escolas. Disse que vai a todas e que sai
horrorizada porque alguns pais se acham no direito de cobrar da instituição
escolar atitudes educativas que ela considera dever da família. Outro leitor
contou que ouviu pais se manifestarem totalmente contrários às posições da
escola e que não entende como eles podem manter o filho na mesma. Já é hora,
portanto, de avançarmos na reflexão da delicada relação escola-família.
Esses nossos leitores, muito sagazes,
constataram que há um grande número de
pais, notadamente entre os que matriculam os
filhos em instituição particular, que acreditam poder exigir uma escola sob
medida para seus filhos.
Isso leva a pedidos ou exigências dos mais
absurdos, como a troca de turma para o filho estar com amigos, troca de
professor de sala ou de disciplina, maior ou menor quantidade de lição a ser
feita em casa etc. Isso sem falar da relação pouco respeitosa que os pais
mantêm com as regras de funcionamento da escola, tais como horário de chegada e
de saída, datas e prazos, uso de uniforme, uso de telefone celular etc.
]
Por que tais solicitações são absurdas?
Porque a escola é o lugar de transição entre família e mundo em que os alunos
aprendem, entre outras coisas, a viver sem escolher. Essa é uma das
características da vida pública: não escolhemos os colegas com quem iremos
trabalhar, as pessoas que estarão ao nosso lado no trânsito, as datas para
pagar contas e tributos e as leis que temos de respeitar.
Precisamos nos lembrar sempre de que a
escola tem o dever de preparar os mais
novos para a cidadania. Por isso, demandas dos
pais que privilegiam o âmbito privado não fazem sentido algum quando
consideramos esse exercício que os filhos devem fazer ao freqüentar a escola.
Esse aprendizado também tem sido dificultado
pelo constatado declínio do
trabalho educativo das famílias. Os alunos
chegam à escola muitas vezes sem o processo básico de educação em curso. Mas,
ao contrário do que muitos professores pensam, isso se deve pouco ao descaso ou
à ausência dos pais e mais à nossa cultura que "juveniliza" os adultos.
É que os jovens - não me refiro à idade cronológica - têm dificuldades de estabelecer
relações educativas com os filhos.
Tal fato tem gerado muitas reclamações por
parte da escola, porque os mestres,
tanto quanto os pais, também estão
submetidos a essa cultura. Uma coisa é certa: pais e professores têm objetivos
comuns e precisam constantemente recordar que é a educação dos mais novos o
foco de sua tarefa educativa. A maioria dos conflitos entre eles não considera
esse ponto, e sim anseios próprios de cada um deles.
Enquanto tivermos pais aflitos com o que
consideram sofrimento dos filhos na
escola e em busca de soluções fáceis e
escolas mais comprometidas com novas
metodologias e com a busca de determinados
perfis de alunos em vez de com o uso do rigor e da exigência para alcançar um
ensino de qualidade, a relação entre ambos será, necessariamente, conflituosa e
desastrosa. Quem perde são os mais novos, que deveriam nortear todo nosso
trabalho.
Texto: Rosely Sayão
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