quarta-feira, 14 de março de 2012

Das tripas coração


695cd4b105b6bae0f349cffa821b4a2491bc34f2Ouvi há alguns dias trecho da entrevista de uma atriz que, exaltada, clamava para que os pais recuperem sua autoridade na família e cobrem o respeito dos filhos, atribuindo a isso parte da violência social constatada atualmente.
Lembro-me de um pai, extremamente preocupado que, apesar de todas as tentativas, não estava conseguindo limitar o uso da Internet pelo filho de 16 anos. Quando eu lhe disse: ‘já pensou em tirar o fio do computador?’. Ele me olhou espantado e respondeu: ‘mas não é muito violento??’.
Colocar limites, ensinar que o esforço é muitas vezes condição de resultado, que nem sempre fazemos só o que gostamos, que todos devem aceitar regras para viver em sociedade, exige que os pais se coloquem na contramão de uma maré poderosa. A maré reinante atual nos invade com as idéias de que tudo pode ser conseguido sem grande esforço, que basta querer para poder e etc…Tanto é assim, que os pais têm muitas vezes a impressão de que estão sendo violentos ao se opor energicamente aos desejos dos filhos.
Em vários momentos há de se fazer ‘das tripas coração’ para levar os filhos a se submeterem ao que a sociabilização exige. Os pais têm o desejo visceral de poupá-los de todo sofrimento. Por outro lado quando eles não correspondem às suas expectativas, sucumbem a uma raiva surda, também visceral, que impulsiona a querer obrigá-los ditatorialmente a obedecer suas ordens. É preciso sair das vísceras para não cair na permissividade omissa, ou no autoritarismo.
A autoridade é diferente do autoritarismo porque quem a exerce está praticando valores, ideais, que considera e estima como bons para todos, inclusive para si próprio. Daí surgem os melhores critérios e não das emoções viscerais, para nortear o que comer, o que ler, com quem se relacionar, o que vestir, e tantas escolhas vida afora…
Se o pai estiver pautado por esses valores e principalmente, se ele próprio se submete a eles, quando arrancar o fio do computador do filho não estará sendo violento, ou melhor, talvez nem tivesse que chegar a tanto…
Helena Mange Grinover - Psicologia Clínica; professora na UNIP e do Departamento de Psicanálise Instituto Sedes Sapientiae; Membro do Conselho do Instituto Zero a Seis. http://www.institutozeroaseis.com.br/
Marcia Arantes – Psicóloga; professora de Orientação Profissional - Faculdades Paulistanas; Trabalho de Promoção do Desenvolvimento Pessoal para Professores e Alunos do Instituto Europeo Di Design; Membro do Conselho do Instituto Zero a Seis. http://www.institutozeroaseis.com.br/






Nenhum comentário:

Postar um comentário